Meus caros,
Depois de amadurecida reflexão, achei que era melhor oficializar o fim do investimento neste blogue e explicar minimamente o porquê dessa decisão.
Fazendo a retrospectiva da coisa, comecei o Protesto Gráfico porque achei que precisava de exteriorizar de alguma forma o ultraje e a indignação que sentia face ao comportamento da classe política que nos “gere”. Digo “gere” e não “lidera” porque liderar é uma coisa completamente diferente, coisa essa que o nosso povo não testemunha há muito tempo, se é que alguma vez testemunhou.
Sendo professor, as políticas criminosas que o governo Sócrates delineou para a educação, tendo como testa de ferro a inenarrável Maria de Lurdes Rodrigues, tornaram ainda mais urgente essa necessidade. Digo políticas criminosas por duas razões; pelo conteúdo – tudo, mas quase tudo o que foi determinado em política de educação nestas duas últimas legislaturas, foi um desastre do qual não iremos recuperar tão cedo, se bem que a história irá certamente julgar quando houver lucidez para tal – e criminosas também pela forma, arrogante a acintosa, com que denegriram na opinião pública uma classe profissional inteira. Quero eu com isto dizer que os professores são os “bons”? Nem por sombras. O que eu tenho dificuldade em tolerar é o facto de um governo definir como estratégia de gestão o rebaixamento público e deliberado de uma classe profissional, seja ela qual for, atiçando-a com as outras classes, explorando pretensos “privilégios” e infundadas invejas, criando intencionalmente clivagens e desavenças no panorama social cuja malha deveria ao invés ser tecida de união e de consensos.
Ao longo de 3 anos fui escrevendo umas modestas prosas e criando umas peças gráficas que contava eu pudessem ser mobilizadoras e usadas como ferramentas de protesto. Tenho cada vez maior consciência de que o acto de protestar não é solução para tudo e que apenas fica a meio caminho entre o alertar e o propor algo de novo e melhor e que é esta última parte que mais interessa, no fundo.
Ao longo desta trajectória apercebi-me de três coisas:
1 – A facilidade com que o protesto se torna institucionalizado, ritualizado e amorfo (aconteceu com os sindicatos e aconteceu com a população em geral).
2 – Uma invariável tendência para a unilateralidade, ou seja, a dificuldade que tantos têm em ver as coisas pelos múltiplos prismas de uma realidade maior e do bem comum e não apenas de atender prontamente a tudo aquilo que pode afectar os seus interesses pessoais.
3 – A quase total ausência de visão política – digo política e não partidária – da sociedade portuguesa em geral, que a impede de avaliar e produzir juízo critico sobre as medidas que a classe política nos apresenta a não ser quando já é tarde demais.
Amadurecendo todas estas percepções, nestes tempos de crise aguda, de desânimo e de esterilidade criativa para soluções de verdadeiro progresso, um espaço como o Protesto Gráfico torna-se pouco compensador, inútil até. O problema não é a falta de protesto, é a falta de vontade em levar esse protesto às últimas consequências por não estar alicerçado numa crença moral suficiente forte de que se está a construir um bem comum.
Da minha parte, tenciono dedicar-me às causas modestas e pouco mediáticas que fazem o quotidiano de todos os que querem viver num mundo melhor; apoiar a família, educar bem os filhos, fazer o meu trabalho o melhor que posso e sei. Estes desafios já são bem grandes se forem levados a sério.
Quanto ao protesto, venha(m) o(s) próximo(s).
Bem hajam!
PG
Nunca desanime da transformacao social, companheiro, ela pode vir, quando menos imaginamos, vide o mundo árabe e agora a mobilização crescente na Espanha. Envio a você um video que está fazendo muito sucesso no Brasil: http://www.youtube.com/watch?v=yFkt0O7lceA
Saudações desde o Brasil!
Boa tarde
Gostei muito dos seus comentários, partilhando e concordando inteiramente com eles. Tenho pena deixar de continuar a colocá-los, como se diz ” a esperança é a ultima a morrer”, estou em crer que ventos de mudança irão surgir, se bem que não a curto prazo…
Jorge Fernandes
Um abraço. Tenho pena que vá e ainda mais que tenha razão na sua análise.
Até outro dia…
Todos passamos por momentos de questionamento interior. Os meus são deste teor. Subscrevo.
Adoro o seu grafismo, quer pelo conteúdo, quer pela forma. Sou fã.
Eles já correram “mundo” e têm sido o “motor” de muitas lutas para uma batalha que ainda não terminou, mas que já tem vencedores – nós. Os professores, de verdade.
Não sei qual a sua ideia, mas sugiro que mantenha somente a publicação um pouco suspensa, nada mais. Estou a ser egoista. Desculpe.
O trabalho que desenvolveu, desenvolve é fantástico. No FB já os utilizam, não professores. Começam a apropriar-se do seu trabalho como fizeram com o do Kaos.
Tem é picos e ciclos.
Uma abraço! Ana
Não sei se “está” no FB… por lá vários dos seus trabalhos circulam entre as pessoas. Acabei de ver dois seus trabalhos a circular no FB…
Ana
Claro que percebo perfeitamente o desânimo e a vontade de desaparecer e as razões desse desconforto. Tudo isso faz sentido, sem dúvida. Mas não me parece que desistir seja uma opção. Nada agradaria mais ao inimigo que essa retirada estratégica. A guerra é longa (e é de guerra que se trata), é uma luta de desgaste permanente e “eles” apostam precisamente na nossa desistência, na nossa resignação e na dita “inevitabilidade” das medidas. Que ganhamos nós em fazer-lhes a vontadinha??? Não, não e não!!! Nunca podemos afrouxar! Pelo contrário. Vamos continuar a denunciar, a colocar a verdade ao de cima, a lutar contra as injustiças sempre e para sempre. Eles não podem sentir-se à vontade para fazerem tudo o que lhes apetece. Resistir tem de ser a nossa palavra de ordem. Nem sequer há alternativa!!!!!!!!!!!!!
O meu cantinho (esse sim verdadeiramente inútil) já foi suspenso por mim para tornar o meu mundo e o dos meus um mundo melhor.
Compreendo perfeitamente as razões apontadas!
No entanto, espero que caso mudes de ideias deixes aqui o link para o teu próximo blogue. O teu trabalho gráfico deveria continuar. Gosto dele por ser sóbrio, acutilante e sempre oportuno.
Abraços colega
O meu obrigado a todos pelas palavras amáveis.
Zé: Não se trata de desistir mas sim continuar a lutar de uma forma mais “privada”, se quiseres. Não sei se se trata de uma característica cultural portuguesa, na qual obviamente me incluo, mas todos adoramos queixar, protestar e criticar. Nada de errado; o problema é que ficamos por aí. Desenvolvi uma certa percepção de que se trata de um fenómeno catárquico ancorado um pouco na preguiça… O protesto via redes sociais e blogues pode ser utilíssimo mas banalizou-se um pouco e forneceu um escape que, – mais uma vez – sendo catárquico, foi impedindo que a panela rebentasse, quando se calhar devia por vezes rebentar mesmo. Não falo de grandes convulsões revolucionárias, daquelas explosões que são inevitáveis quando e só quando se chega ao desespero mas sim daquelas pequenas coisas que, no dia a dia, deveríamos logo interiormente denunciar e rejeitar no nosso íntimo e reagir de acordo. Pergunto-me muitas vezes se os blogues ditos “de protesto” não farão parte dessas válvulas de escape, em risco de se esgotarem nesse papel e de desviarem a força que deriva do sentimento de desagrado ou de revolta genuínos e que deve encontrar a sua expressão na acção prática do quotidiano, no terreno, no local de trabalho, em todo o lado que se achar, na consciência de cada um, pertinente.
Enquanto penso nesta questões, faço uma espécie de “sabática bloguista”. Mas desistir? Não!
Abraço a todos.
PG